sexta-feira, 17 de abril de 2009

Prematuro.

Subo as escadas em busca dum refúgio e não me sai da cabeça aquele “adeus”, dado na certeza de que nos voltaríamos a encontrar (quer eu quisesse, quer não). Pela primeira vez na vida, a minha localização condiciona-me os pensamentos. Sempre tive facilidade em me desligar de tudo e de todos, de abafar a luz do sol, esconder-me no canto de um deserto. Bastava saltar de sonho para sonho, abstrair-me das minhas infelicidades. Mas desta vez tornara-se impossível fazê-lo.
Abro por fim a porta da minha toca, com o coração a mil a hora e a sensação de aflição que o teu perfume me faz, de tão entranhado que está em mim. Sincronizo umas quantas músicas no mp3, daquelas que me fazem chorar, deixo-me desmaiar na cama e enterro a face entre as palmas das mãos, morrendo de vergonha ao relembrar o beijo que te roubei na esperança de conseguir um gostinho teu. Parece que ainda estou lá, a observar os galhos das árvores por entre a janela da tua salinha aconchegante, depois de levar uma daquelas valentes bofetadas que só a vida nos pode dar, e a esforçar-me por não deixar escapar uma lágrima que fosse, enquanto tu calmamente me negavas aquele amor que eu tanto desejava. E não, não vou dizer que não soube bem no fim, ver-te arrastar-me contra o peito, e sentir aquele teu calor que, certamente, nunca se há-de fundir com o meu, quando o que realmente me apetecia era gritar-te, como uma criança mimada, e pedir-te para me dares obrigatoriamente o pedacinho de céu que eu tanto queria.
É incrível como em apenas 5 minutos de acções impensadas, completamente impulsivas, desmoronei sonhos e deixei-me enterrar com o coração esmigalhado. Agora ao fechar os olhos, só vislumbro a tua sombra…já não há lençóis amarrotados que se despertam com o nascer do sol, e o meu bouquet secou, e os filhos nunca foram feitos, e as rugas da minha velhice não acompanham mais as tuas...
Por fim, aperto bem a almofada, e cubro-me com aquele cobertor de lã que não é suficiente para aquecer os meus sentimentos gelados, enquanto ouço aquela triste canção composta por notas de agonia…assim fico, ougada por ti, por aquele beijo incompleto, não permutado.
Prematuro.

Um comentário:

  1. «já não há lençóis amarrotados que se despertam com o nascer do sol, e o meu bouquet secou, e os filhos nunca foram feitos, e as rugas da minha velhice não acompanham mais as tuas...»

    Tenho os olhos cheios de àgua.
    Senti uma saudade imensa...

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