Não muito longe, encontrariam um campo florido, rico, um verdadeiro cartel de flores à escolha, que a chuva repentina decidira apagar. Ela viajava com os seus sentidos, deixando-se absorver pelo vento e aquele frio repentino que congelara o que de mais precioso haviam conseguido. Ele, entorpecido, desvanecendo-se, confrontava o céu cinzento que o invadia, juntamente com um chamamento eterno. Não havia palavras, lágrimas, gestos capazes de abafar o próprio silêncio que entoava alto, enquanto ambos faziam preces para que lhes ocorresse uma mentira adocicada, capaz de desfazer a insípida memória que, cismava em prevalecer, intrometendo-se no caminho de dois mundos unidos por algo bem maior e que um dia lhes havia parecido indestrutível…num dia em que as nuvens carregadas de choro não mancharam a patela colorida daquele campo de flores.
Eis o ultimo ensaio. Agora é coisa séria. Não há tempo para pensar nas falas! Tens de as soltar naturalmente. Olhos baços, coração inquebrável e faz-te de mouco, de cego. Não olhes para a plateia, a assustadora plateia, pronta para te aplaudir ingratamente, desonestamente. Apaga-os, ignora apenas todos os sussurros e crueldades que te tentam chegar aos ouvidos. Sou só eu quem te presta atenção. Consigo seguir com os lábios mudos as tuas deixas e imitar todos os teus gestos. És tu quem brilha com mais força no meio de todos aqueles corpos bem treinados, trabalhados e disfarçados...continua.
E agora..tempo de fechar as cortinas. Corro para o camarim enublado pelo pó de arroz que tantas vezes que me mascarou…não há sinal de ti. Faz poucos minutos que se deu fim á ultima cena. Começam a destruir os cenários, a desmontar as luzes. Fujo lá para fora e sento-me nas escadas do auditório. Interrogo a noite, talvez ela saiba onde te terás metido e por fim, desisto. Atravesso a rua sem fim, de mãos nos bolsos, onde apanho um retalho de papel. “Sarrabiscaste-o”, confiante, frio e curto:
“Vitória, vitória, acabou-se a história”.
Culpa minha, por sempre te ter visto como um grande actor. Quanto ao final feliz..hei-de procurá-lo sozinha.
Hoje fizeste-me princesa, por isso, vou parar todos os relógios deste castelo de papel e recolher com cuidado os nossos corações de vidro. A meia-noite espreita e eu quero MESMO ser princesa…para sempre.
Hei-de um dia olhar para trás, buscar-te por todos os cantos do coração, encontrar-te e limpar todo o pó que encobre memórias e as teias de aranha emaranhadas em chagas. Sei que nesse momento vou conseguir olhar-te nos olhos, sentir o meu coração bater forte e sorrir-te…no fundo és uma boa memória, daquelas que ainda me faz sentir o sangue pulsar nas veias e arrepios percorrerem todo o corpo.
Mas isso há-de ser um dia…daqui a muito tempo.
Eu já te disse que um coração partido leva o seu tempo a sarar.
Isto não é vida para mim…entre decidir dar início a um novo trajecto ou permanecer nesta ruela deserta à tua espera, estende-se uma estrada de interrogações, prós e contras, uma estrada que eu não posso percorrer com a mísera força que tenho. Fui gastando-a enquanto perguntava a mim mesma o que, possivelmente, te passava pela cabeça: o que desejas, o que simplesmente não queres e o que te deixa indeciso. Mas acerca de algo estou segura...sei que não passo de uma dúvida e, por isso, peço-te: Faz de mim uma certeza.
domingo, 19 de abril de 2009
Sento-me na soleira da minha entrada enquanto escolho um destino. Tenho nas mãos o mapa da minha vida, incompleto, desproporcional, com ruas sem nome, umas de alcatrão e outras com jóias cravadas entre paralelos. Percorro uma cidade antiga e chego a uma avenida onde te encontro. Interrogo-me se me darás ordem para seguir em frente ou se vais querer que te dê a mão e dar início a uma rota colorida, delineada por nós dois. Lentamente, com o coração nas mãos chego perto de ti e beijo-te a face, ritual ao qual estamos habituados mas do qual eu nunca me canso, e após uma breve reflexão que leio nos teus olhos, sussurras-me ao ouvido: - Segue em frente e vira à direita…lá fica a paragem de autocarros e eu prefiro andar de comboio.
Realmente, há dias em que mais vale ficar em casa.
Subo as escadas em busca dum refúgio e não me sai da cabeça aquele “adeus”, dado na certeza de que nos voltaríamos a encontrar (quer eu quisesse, quer não). Pela primeira vez na vida, a minha localização condiciona-me os pensamentos. Sempre tive facilidade em me desligar de tudo e de todos, de abafar a luz do sol, esconder-me no canto de um deserto. Bastava saltar de sonho para sonho, abstrair-me das minhas infelicidades. Mas desta vez tornara-se impossível fazê-lo.
Abro por fim a porta da minha toca, com o coração a mil a hora e a sensação de aflição que o teu perfume me faz, de tão entranhado que está em mim. Sincronizo umas quantas músicas no mp3, daquelas que me fazem chorar, deixo-me desmaiar na cama e enterro a face entre as palmas das mãos, morrendo de vergonha ao relembrar o beijo que te roubei na esperança de conseguir um gostinho teu. Parece que ainda estou lá, a observar os galhos das árvores por entre a janela da tua salinha aconchegante, depois de levar uma daquelas valentes bofetadas que só a vida nos pode dar, e a esforçar-me por não deixar escapar uma lágrima que fosse, enquanto tu calmamente me negavas aquele amor que eu tanto desejava. E não, não vou dizer que não soube bem no fim, ver-te arrastar-me contra o peito, e sentir aquele teu calor que, certamente, nunca se há-de fundir com o meu, quando o que realmente me apetecia era gritar-te, como uma criança mimada, e pedir-te para me dares obrigatoriamente o pedacinho de céu que eu tanto queria.
É incrível como em apenas 5 minutos de acções impensadas, completamente impulsivas, desmoronei sonhos e deixei-me enterrar com o coração esmigalhado. Agora ao fechar os olhos, só vislumbro a tua sombra…já não há lençóis amarrotados que se despertam com o nascer do sol, e o meu bouquet secou, e os filhos nunca foram feitos, e as rugas da minha velhice não acompanham mais as tuas...
Por fim, aperto bem a almofada, e cubro-me com aquele cobertor de lã que não é suficiente para aquecer os meus sentimentos gelados, enquanto ouço aquela triste canção composta por notas de agonia…assim fico, ougada por ti, por aquele beijo incompleto, não permutado.
Prematuro.
o quão estranho soa escrever isto... Apontar o que vai na alma num pequeno caderno de capa bem decorada, confiar-lhe os nossos segredos mais íntimos como se fosse um túmulo, e ao fim de um tempo, voltar a desenterrá-los. E o quão irónico é ver que, ao fim de tantos anos, continuámos a queixar-nos dos mesmos problemas e a sonhar alto...no entanto, também é bom reparar que arranjámos soluções para ultrapassar o que nos atormenta e que apesar de não parecer, crescemos a uma velocidade frenética e assustadora. Adoro passar os olhos nestas páginas de vida, rotina e eventos e aperceber-me de que mudei e aprendi com os meus erros, que tenho de melhorar a cada dia que passa, mesmo que para isso tenha que dar com a cabeça e os punhos cerrados na parede. E assim, desejo-te uma boa noite, despedindo-me com uma lágrima.
Volto a escrever daqui a uns anos. "Ja ne"!
P.S. - Só mais um coisinha, querido diário...digo-te desde já que o eu mais gosto em ti, é de poder escrever e esboçar o que quiser, sem a preocupação de dar erros ortográficos ou gramaticais. Espero que nunca nenhum "culto mestre" da língua portuguesa te apanhe, até porque seria suspeito, tendo em conta que te guardo na gaveta das cuecas.
Mafalda (Agora chamam-me Pururu ou Maf)"
Encontrei ontem o meu diário. Recebi-o quando tinha 10 anos e a última vez que lá escrevi foi em 2006...Soube bem recordar todos os maus e bons momentos da minha infância e pré-adolescência. E ontem, mais uma vez, coloquei dois pequeninos corações junto à assinatura.
Sinto como se algo me prendesse a ti. Por mais que me tente libertar não dá, ou então, sou eu mesma quem, subconscientemente, não te quer largar. Por mais egoísta que seja, eu sinto que é a mim que pertences e mesmo que te tenha de entregar a alguém, vou continuar contigo, manter-te bem juntinho ao coração que, outrora fora estilhaçado, e cujos pequenos pedacinhos foram recolhidos por ti, com todo o cuidado.
kondo wa itsu aeru ka nante sonna kao shite yoku ierutte omotteta yo nande darou anytime shaberisugi no Ky chirari miseru tsuyogari "i cry" namida no kouka wa dore kurai? watashi narini "ai saretai" afureru no ni kimi ga mienai nido to kimi ni aenai sonna ki ga surunda tsutaetai no ni umai kotoba miataranai watashi tabun uso demo ii no ni "ikanai de" mo ienai yo nigitteta te ga hanaretara kimi wa itsuka wasurechau no? watashi no koto tsutaetai no ni umai kotoba miataranai watashi tabun uso demo ii no ni "ikanai de" mo ienai yo
Day Dreamer;
Fighter;
Curious;
Funny;
Positive;
Perv;
Friendly;
Childish.
*w*
Sou feita de muitos retalhos de vida e de uma enorme colecção de sentimentos.